O nome António Daconte pode não ser familiar para muitos, mas a sua história teve um impacto profundo e duradouro na literatura mundial. Antonio Daconte tornou-se uma figura lendária e uma fonte de inspiração para um dos romances mais famosos do século XX, “Cem Anos de Solidão” de Gabriel García Márquez, inspirando a criação da personagem Pietro Crespi.
Deixou Scalea em 1885 a bordo do vapor Olinda Rodriguez e dirigiu-se para o Panamá, optando, após a sua chegada, por se estabelecer na Colômbia. A sua viagem até à cidade colombiana de Aracataca, será emocionante e cheia de sucessos, o seu destino entrelaça-se com o de Gabriel García Márquez, tornando-se a base do “realismo mágico” que caracteriza o famoso escritor.
Na pitoresca Aracataca, Daconte abriu um bar acolhedor na praça central e iniciou vários negócios de sucesso, ao mesmo tempo que cultivava as suas paixões por bicicletas, gramofones e os primeiros aparelhos de rádio.A sua audácia e visão empreendedora levaram-no a abrir o primeiro cinema da região, o Salon Olympia, onde o jovem García Márquez experimentou pela primeira vez o fascinante mundo das imagens em movimento.
Estas experiências extraordinárias, vividas na remota cidade colombiana, darão forma ao “realismo mágico” que fará de Macondo, a cidade imaginária de García Márquez, um lugar mítico cheio de simbolismo.A casa-museu dedicada a Garcia Marquez, em Aracataca, preserva a memória de Daconte através dos dois projectores importados para o Cine Olympia, como uma homenagem duradoura a este emigrante visionário.
Daconte representa um exemplo positivo de integração e de contribuição ativa para a cultura local, a imagem estereotipada do emigrante pobre que parte com uma mala de cartão é substituída pela narração de histórias de homens e mulheres capazes de se redimirem e de realizarem os seus talentos, uma contribuição que provavelmente teria ficado por expressar nos seus países de origem. A emigração de Daconte torna-se assim um percurso de sucesso e realização pessoal, mostrando que por detrás de cada emigrante existe uma história única e complexa.
A contribuição de Daconte para a sociedade colombiana do início do século XX vai para além do sucesso pessoal. Ele representa uma geração de emigrantes que, com humanidade, classe e energia, moldou as bases de uma comunidade multicultural e próspera.
A vida de Antonio Daconte serviu de enredo a um dos episódios mais misteriosos e fascinantes da história da Colômbia. A história de Daconte tornou-se uma espécie de mito, entrelaçado com a realidade e a lenda, alimentando o imaginário coletivo.A sua história ganha vida, graças à criação da personagem Pietro Crespi, nas páginas de “Cem Anos de Solidão” de García Márquez. Esta obra, publicada pela primeira vez em 1967, é uma obra-prima do realismo mágico e mereceu o reconhecimento mundial, incluindo o Prémio Nobel da Literatura em 1982 para o autor colombiano.
António Daconte é retratado no romance como um escritor e jornalista que, atingido pela solidão e pela melancolia, decide construir uma máquina de escrever ao contrário, invertendo o sentido das palavras. A intenção era escrever uma obra que só fizesse sentido quando lida reflectida num espelho.
A sua história termina de forma trágica quando, depois de terminar o seu trabalho, dá um tiro na cabeça, pondo fim à sua existência. Esta história em “Cem Anos de Solidão” é um reflexo da complexidade humana e do desejo de comunicar, mesmo quando parece que o mundo não nos compreende. A figura inspirada em António Daconte torna-se um símbolo da solidão do artista, do seu desejo de criar algo único e indecifrável, uma forma de expressão que desafia as convenções.
Antonio Daconte representa um capítulo fascinante na história da emigração italiana e um exemplo de sucesso que ultrapassa as fronteiras geográficas. A sua figura, imortalizada nas páginas de Garcia Marquez, continua a inspirar aqueles que procuram oportunidades fora da sua terra natal, provando que cada emigrante traz consigo uma história rica e um potencial único.